Crianças brasileiras descendentes de bolivianos dizem que tem medo e que se sentem intimidadas
Por: Da Redação
28/09/2010 14h58 - Atualizado em 28/09/2010 17h09
A Secretaria Estadual da Educação de São Paulo disse, em nota enviada à imprensa nesta terça-feira (28), que vai investigar denúncia de bullying contra alunos imigrantes da Bolívia em escola da Região Central de São Paulo.
O assunto veio à tona em reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” nesta terça-feira. Estudantes e um professor disseram ao G1 que alunos imigrantes têm de pagar para não apanhar de outros alunos na Escola Estadual Padre Anchieta, no Brás. Os entrevistados pediram para não ser identificados.
A escola está localizada no bairro de São Paulo em que vivem milhares de imigrantes bolivianos. Muitos deles trabalham em confecções da região.
Segundo um professor da escola, estudantes exigem que os alunos bolivianos paguem lanche para eles. “Eles levam tapas na cabeça”, disse o professor. De acordo com o educador, os alunos sofrem preconceito e o clima é tenso na sala de aula. “Os grupos não se misturam. É um problema quando peço para fazerem trabalhos juntos”, afirmou.
De acordo com o professor, o bullying ocorre desde o ano passado na escola. “Alguns estudantes foram identificados, mas não foram punidos”, disse. Para ele, é preciso conscientizar os estudantes e não punir. “O problema aqui é que não tem assistente social, não tem psicólogo. Isso aqui é um depósito de gente”, disse.
Um aluno de 16 anos, do segundo ano do ensino médio, que é descendente de bolivianos, afirmou que não estuda tranquilo. “Tem grupos que intimidam”, afirmou. O pai de um estudante de 13 anos, ambos bolivianos, afirmou que o filho já teve dinheiro furtado da mochila. “Nunca acontece nada frente a frente”, disse.
Uma estudante brasileira disse que as ameaças acontecem às escondidas no pátio da escola e na sala de aula. “Dizem 'ou paga ou apanha'. Os supervisores nem veem”, afirmou. Outra aluna afirma que o problema também ocorre na Escola Estadual Eduardo Prado, próximo à escola Padre Anchieta, no Brás. “Já estudei lá e vi acontecer várias vezes”, afirmou.
Na nota enviada à imprensa, a Secretaria Estadual da Educação de SP afirma que enviou uma comissão de supervisores para investigar se houve omissão da direção da escola Padre Anchieta e poderá exonerar a diretora do cargo se o problema for confirmado.
Disse ainda que os casos serão analisados individualmente e que começará um projeto de combate ao bullying na escola. Segundo a secretaria, a escola tem um professor-mediador, que desenvolve atividades pedagógicas e procura resolver problemas na escola com alunos e professores.
O padre Mário Geremias, coordenador da Pastoral do Imigrante, na Região Central de São Paulo, disse já ter visto estudantes bolivianos de oito anos sofrerem agressão na rua. "Não sei de onde vem tanta agressividade. É fora do normal. O mais triste é que são da mesma idade", disse. Para o padre, tanto os pais dos agressores como a escola devem ser responsabilizados.
Segundo Marlene Valência de Vargas, da Associação de Residentes Bolivianos, os estudantes imigrantes sofrem discriminação. "Eles não reclamam. São tímidos, mas o problema acontece", disse.
A Secretaria da Educação de SP negou que ocorra bullying na Escola Estadual Eduardo Prado. Segundo a assessoria de imprensa, uma briga entre um aluno brasileiro e uma estudante boliviana fora da escola levou à suspensão dos estudantes há cerca de duas semanas.
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