Camponesas do Peru e da Bolívia dão exemplo de disposição no futebol
Por: Da Redação - 18 de agosto de 2011
"Mamachas” são as mulheres do campo no Peru e cholitas são as mulheres do campo na Bolívia. As “mamachas” vivem da agricultura.
O futebol é tão popular que, até nos lugares mais remotos do continente, consegue cativar quem a gente menos espera. A reportagem é de Kiko Menezes.
“Mamachas” são as mulheres do campo no Peru e cholitas são as mulheres do campo na Bolívia. As “mamachas” vivem da agricultura e principalmente do artesanato, então, precisam trabalhar duro todos os dias.
"Temos de arrumar nossos filhos para a escola. Depois trabalhamos na oficina de artesanato e ajudamos nossos maridos na lavoura. Caminhamos de duas a três horas morro acima e ainda temos de cozinhar", conta uma mamacha.
Na sociedade das cholitas, elas trabalham mais do que eles. "Alguns homens trabalham, mas existem viúvas e mães solteiras que precisam cuidar das casas sozinhas, comprar roupas a sustentar os filhos", lembra a artesã Estela Aquino, de 52 anos.
O tempo está bonito e faz sol. É dia das mamachas no Peru e das cholitas na Bolívia irem para o campo. Mas é o campo de futebol a grande diversão para essas senhoras e para quem assiste também.
Levar por baixo da saia não é vergonha nenhuma e, além de correr atrás da bola, elas precisam perseguir as sandálias também. As mamachas disputam campeonatos intercomunitários nos quais as vencedoras recebem recursos da prefeitura. Não usam chuteiras, que é um equipamento profissional, e não abrem mão dos trajes típicos, que estão acostumadas a vestir diariamente, nem para cabecear uma bola. Provavelmente, os uniformes mais multicoloridos e extravagantes do futebol de hoje em dia não têm nada a ver com moda.
As cholitas jogam só por diversão, mesmo. Isso acontece uma vez por mês quando é possível, claro. Pernas saradas e abdômen definido: nada disso é prioridade para essas jogadoras. Elas são cheinhas; é a prova de que preparação física nem sempre está relacionada a um corpo “saradão”.
“Subimos morro, montanha, corremos com peso nas costas como burrinhos de carga. Trabalhamos todos os dias caminhando, não ficamos sentadas em casa. Por isso temos saúde", lembra Estela.
Elas estão jogando a 3,8 mil metros de altitude, se divertindo, correndo sem parar, e a única coisa que tira a respiração é a paisagem do local. Com o Lago Titicaca de fundo, esse é um dos campos de futebol mais escondidos e também com um dos visuais mais bonitos do planeta.
Quem tem um barquinho está por cima neste lugar, pois é o lago comercialmente navegável mais alto do mundo. É o segundo em extensão da América Latina. O espelho de água toca dois países: a Bolívia e o Peru. Enquanto isso, o futebol das Cholitas toca o coração de quem tem a oportunidade de sentar nas arquibancadas naturais do campinho do Titicaca. É divertidíssimo; é uma brincadeira e é esporte.
Mas o futebol também cumpre um papel social no campo. "Isso para nós significa liberdade. Trabalhamos com enxadas, animais, tecidos. O futebol é a nossa diversão. Um alento", conta Estela Aquino.
Não usam chuteiras, tênis, nem sapatos fechados. O futebol dessas mulheres é tão simples quanto a vida que levam no lugar, no povoado de Huilloc. É que as mamachas, desde cedo, precisaram aprender a sempre ter os pés no chão. Um precipício separa o vilarejo de Huilloc, onde vivem essas mamachas, do resto do mundo. É um lugar longe de estradas, de barulho, de poluição e longe do tempo.
"Nós não temos televisão no povoado, então escutamos as partidas de futebol que são transmitidas pelo rádio", conta uma mamacha.
Para um povo que preserva costumes de 500 anos atrás, o idioma local atravessou séculos: o quéchua. "O futebol serve para que elas recuperem sua identidade cultural. Faz com que elas se sintam importantes", lembra a diretora Jessica.
As mamachas seguem cantando baixinho e as cholitas dançando nas alturas. Mulheres que são a representação do futebol, que nascem, crescem, vivem e morrem no campo.
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